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No sexo, nos guiamos por instinto ou agimos por imitação?

Foto do escritor: Edvanderson RodriguesEdvanderson Rodrigues

Especialistas debatem se comportamento sexual é aprendido ou instintivo e falam do papel das representações para a construção do repertório no sexo

Por Alex Bessas


“Eu estava aqui pensando: você já se deu conta de que o jeito que a gente transa segue um script? Você já parou para pensar que todos nós fazemos certo tipo de coreografia, uma sequência de movimentos, os mesmos sons para passar uma mensagem de prazer?”. O questionamento é da atriz Fernanda Nobre, que, em suas redes sociais, em novembro, meio “pensando alto”, compartilhou com seus seguidores uma série de reflexões. 


 

À luz da sexologia, a análise faz sentido. “A gente que estuda esse tema se pergunta isso há muito tempo. Nós refletimos, por exemplo, sobre como as pessoas estão fazendo algo que ninguém ensinou e quase todo mundo faz, geralmente seguindo moldes similares”, reconhece o psicólogo e sexólogo Rodrigo Torres.

 

Ele destaca que, cientificamente, não há critérios para medir se transamos mais por instinto ou imitação. “Mas, em geral, o consenso é que essa prática, nos humanos, é muito mais aprendida por imitação do que apenas instintiva”, examina, inteirando que o desejo sexual, claro, pode ser uma manifestação inata. “Mas o comportamento, por sua vez, é aprendido. Então, a maneira como agimos na cama tende a ser aprendida por imitação, ou melhor, pelo resultado de um conjunto de imitações”, sinaliza.

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A também psicóloga e sexóloga Théa Murta concorda, acrescentando mais elementos à reflexão: “Não nascemos sabendo sobre sexo, prazer, significados envolvidos, movimentos a fazer etc. É ao longo da vida que vamos entrando em contato com a sexualidade, a partir do que vamos sentindo no corpo e do que conversamos, observamos, do que nossos pais e pessoas próximas vão nos dizendo, das aulas de educação sexual, da sensação que aparece ao fazer a higiene dos órgãos genitais…”.

 

Para ela, a compreensão do sexo como algo a ser aprendido é especialmente interessante por possibilitar descobertas e favorecer o autoconhecimento, fugindo da ideia rígida de que uma pessoa é ou não “boa de cama”, como se o atributo fosse inato. “Quando saímos dessa concepção muito restrita, que vê o sexo apenas como algo intuitivo, temos, inclusive, a chance de ampliar o nosso repertório erótico e sexual”, crava.


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Pornografia como norte

Na sequência de vídeos compartilhada por Fernanda Nobre no Instagram, plataforma de fotos e vídeos da Meta, a atriz prossegue argumentando que, muitas vezes, nesse processo de “aprender a transar”, imitamos o que vemos na arte ou na pornografia. “Transar como a gente transa nos foi ensinado. Mas quem ensinou? Onde a gente aprendeu? Nós todos, homens e mulheres, a gente aprendeu a transar assistindo TV, no cinema, em revistas, fotos, clipe de música e, claro, a pornografia”.

 

De fato, na avaliação de Théa Murta, essas influências tendem a moldar a nossa forma de fazer sexo, principalmente no início da vida sexual. “Esse processo de iniciação costuma vir com muitos medos, receios, inseguranças, dúvidas. Precisamos partir de algum ponto, então a tendência é que haja a reprodução de muitos comportamentos que foram colocados como certos e esperados no universo do erótico”, defende, acrescentando que essas referências vêm principalmente da pornografia – “que acaba sendo o meio mais acessível e rápido de ter esse contato antes de ir para a prática”.

 

Rodrigo Torres acrescenta que a predominância desse aprendizado por meio do pornô está ligada também ao fato de esses conteúdos serem a única forma de educação sexual que muitas pessoas têm. “Quase todo mundo faz sexo, mas pouca gente fala sobre esse tema. Nós, culturalmente, evitamos falar de sexo nas escolas, em casa e em ambientes públicos. Então, a tendência é que a gente busque esse conhecimento onde ele estiver acessível, seja nas novelas, filmes, séries, revistas, clipes e, claro, na pornografia, que acaba ocupando esse lugar (de referência)”, observa.

 

Fator limitante

Embora tanto Théa Murta quanto Rodrigo Torres defendam que encarar o sexo como algo que pode ser aprendido tende a ser positivo, afastando-se de crenças que podem ser limitantes e favorecendo o autoconhecimento, os dois ponderam que, por outro lado, pautar-se excessivamente na imitação pode ser também problemático.

 

Ainda que, como já explicou a sexóloga, conteúdos que orbitam o universo do erótico sirvam como uma referência sobretudo no começo da vida sexual, é preciso ir além.  “Quando a pessoa fica refém da imitação, ela fica mais sob controle da imitação e da ideia de performance do que do seu próprio prazer, do que gosta. E isso acontece, muitas vezes, sem a pessoa perceber”, observa. Ela destaca que, para entender o que funciona e o que não funciona para cada um, é importante dar espaço para se perceber na experiência como protagonista, e não como mero reprodutor de posições e gemidos. “É preciso se apropriar de si, de seu prazer e de sua intimidade”, determina.

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Em uma perspectiva macro, a mera replicação tem como efeito a padronização dos comportamentos sexuais. “Fica todo mundo pensando que sente e gosta da mesma coisa, porque as principais formas de aprendizado são essas imagens padronizadas”, sustenta Torres. “Dessa maneira, mesmo transando com diversas pessoas ao longo da vida, acreditamos que todas vão gostar da mesma coisa e acabamos tendo um comportamento sexual estereotipado, com um tentando agradar ao outro, seguindo um script, tentando adivinhar o que deve ser feito, mas sem comunicação”, complementa.

 

“Há ainda essa ideia romântica de que o parceiro ideal vai descobrir do que gosto de maneira instintiva. Mas isso é balela. A gente só vai conseguir chegar a uma boa dinâmica se, primeiro, souber do que a gente gosta e aprender a comunicar isso. Vai depender também se a outra pessoa está aberta a ouvir e a descobrir seus gostos e comunicar suas preferências”, finaliza o sexólogo.

 

 




Tags.: sexo, sexual, sexualidade, instinto, libido, desejo

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